Estudos apontam que certas características da personalidade de uma pessoa podem ser um factor decisivo no desenvolvimento de um défice cognitivo ligeiro numa idade avançada.
Ser mais consciencioso e extrovertido afasta, durante mais tempo, a possibilidade de a pessoa desenvolver um défice cognitivo ligeiro. No entanto, ter níveis mais elevados de neocriticismo aumenta as probabilidades de se ter um declínio cognitivo, segundo um estudo, publicado segunda-feira no “Journal of Personality and Social Psychology”.
Com base em diversas análises, constatou-se a personalidade de quase 2 mil pessoas que participaram no projeto Memória e Envelhecimento, da Universidade Rush. Este estudo da população idosa da região de Chicago começou em 1997. Estudou-se o papel de três traços cruciais da personalidade: a consciência, a extroversão e o neocriticismo. Ao analisar-se estas características, consegue perceber-se se as pessoas terão, na sua vida, alguma categoria de declínio cognitivo.
O neocriticismo é uma característica da personalidade que influencia como uma pessoa lida com o estresse. As pessoas neuróticas abordam a vida com ansiedade, raiva e autoconsciência. Muitas vezes, veem pequenas frustrações como algo irremediavelmente insuportável ou ameaçador.
Ser-se extrovertido e estar-se socialmente integrado pode afastar, por mais tempo, estes problemas cognitivos.
Por cada seis pontos adicionais que uma pessoa marcou numa escala de conscienciosidade, estes estavam “associados a uma redução de 22% do risco de transição do funcionamento cognitivo normal para um défice cognitivo ligeiro”, disse Yoneda.
O estudo disse que isso pode fazer com que uma pessoa de 80 anos viva mais dois anos sem problemas cognitivos, em comparação com aqueles que obtiveram baixa percentagem a nível da conscienciosa.
Contudo, à medida que os níveis de neuroticismo aumentavam, também aumentava o risco de transição para o declínio cognitivo. A cada sete pontos adicionais na escala, “estes estavam associados a um risco 12% maior”, disse Yoneda. Isto pode traduzir-se numa perda de, pelo menos, um ano de cognição saudável.
Este estudo não é o primeiro a estabelecer uma ligação entre personalidade e função cerebral.
Pesquisas anteriores mostraram que as pessoas mais abertas a experiências, mais conscienciosas e menos neuróticas têm melhor desempenho cognitivo nos testes. Temporalmente, apresentam um menor declínio cognitivo.