Ainda jovem, Beto Gourgel palmilhava a areia avermelhada das ruelas do Bairro Marçal e ouvia, encantado, os coros da Igreja Metodista, instituição religiosa na qual o pai foi pastor. À época fervilhavam os bailes no espaço cultural do Club Botafogo, e pairava no ar a vibração dos “Kimbandas do Ritmo”, formação musical que integrava, nos anos 60, os compositores e intérpretes Catarino Bárber, Manuel Faria de Assis e Tonito. Em Novembro de 1961, Beto Gourgel começa a estudar na Casa Pia de Lisboa e é aí começa o seu verdadeiro contacto com a música. A Casa Pia, enquanto instituição de benemerência, foi uma das grandes referências culturais do passado de Beto Gourgel. Nessa época, Beto Gourgel interpretava, nostálgico, as músicas do Duo Ouro Negro e canções da sua infância, facto que o ajudou a contornar o enclausuramento e a solidão dos duros tempos da Casa Pia de Lisboa, uma adaptação que não foi, de modo algum, fácil.
Em Portugal, Beto Gourgel ajuda a fundar, em 1967, os “The Fools” – uma formação pop-rock de Saldanha, como vocalista, que integrava o Zequinha (viola baixo), Rui Jorge (guitarra solo), Nuno (bateria) e Narciso (guitarra ritmo). Na sequência de ligeiras metamorfoses estruturais dos “The Fools”, o grupo passa a designar-se “The Milk Baby’s Group” e depois “Filhos da Pauta”. Ainda no mesmo ano, Beto Gourgel integra o “Alerta Está” – um grupo musical ligado ao exército que fazia apresentações, essencialmente, nos aquartelamentos militares.
No “Alerta Está”, Beto Gourgel encontrou alguns músicos que hoje são importantes referências da Música Popular Portuguesa: Fernando Tordo, Carlos Mendes, Tony Amor, vocalista dos “Seis Latinos”, Rui Pato, entre outros. Beto Gourgel chega a fazer, com o “Alerta Está”, um espectáculo no Cine Monumental de Lisboa, concerto que chegou a ser gravado pela televisão, e canta, pela primeira vez, em público, a canção, “Tata ku matadi”, em kimbundu. O referido espectáculo foi acompanhado por uma orquestra, dirigida pelo maestro Sílvio Pleno.
Em 1968, Beto Gourgel, ainda no “Alerta Está”, faz apresentações, durante seis meses, nos aquartelamentos dos militares destacados na Guiné e em Moçambique, e volta para Angola, em 1969. Nos finais de 1969 é convidado a participar no ZipZip – um famoso programa da RTP- que tinha como apresentadores Raúl Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia, que eram também os autores. Nesse programa participaram os cantores Rui Mingas e Fausto, e Beto Gourgel não compareceu por falta de autorização militar.
Beto Gourgel tem o mérito de ter sido uma figura que se destacou na época de eclosão do fervor revolucionário, fase que conduziu à independência de Angola, em 1975. A singularidade comunicativa dos seus textos musicais, a sátira e o humor linguístico – que lhe é peculiar – fizeram de temas como “Ngingila iá Nvunda” (caminhos da luta), “Gienda iá mamã” (saudade materna) e “Metamorfose”, canções modelo do período revolucionário.
Depois de uma passagem de dois anos por Angola, de 1970 a 1972, Beto Gourgel acaba a comissão militar, regressa a Portugal e reencontra os velhos amigos das velhas bandas de Saldanha: “The Fools”, “The Milk Baby’s Group” e “Filhos da Pauta”. Beto Gourgel faleceu, por doença, no dia 25 de Janeiro de 2006, e foi a enterrar às 14h45, do dia 28 de Janeiro, ao som do clássico “Muxima”. Nos últimos anos da sua carreira, além de cantor, compositor e trovador, Beto Gourgel experimentou, com reconhecida notabilidade, a representação, tendo contracenado, como Nganjeta, com o cantor Dionísio Rocha, no início do programa “Conversas no Quintal “, uma animada série humorística da grelha da Televisão Pública de Angola.